O CRIME PERFEITO
novembro 19, 2009 at 10:47 pm Deixe um comentário
O primeiro homicídio a gente nunca esquece. Não foi premeditado, nem a sangue-frio, mas o gostinho que ele deixa, para o bem ou para o mal, é inesquecível. Depois de matar alguém, você nunca mais é o mesmo.
Hoje contarei como matei Jean Baudrillard. Sim, o filósofo/sociólogo francês não morreu doente em 06 de março de 2007. Ou melhor, morreu sim, mas não só por isso. Quem o matou fui eu, admito.
Dois ou três dias antes de sua morte, estava eu na Livraria da Travessa, na Avenida Rio Branco, escolhendo que livro levaria pra casa. Achei uma pilha de livros dele, folheei um a um, com calma, tentando me decidir qual levaria. Até que percebi que não, não estava afim de ler nada dele naquele dia.
Ao devolver a pilha de livros à prateleira, no plano simbólico disparei um tiro direto no peito do autor francês. E, assim como as Torres Gêmeas entenderam que o ataque da Al Quaeda foi o único acontecimento real de nossos tempos, e por isso resolveram se implodir, Baudrillard compreendeu que a minha recusa à sua obra significava que sua hora havia chegado, entregando-se a morte. No plano simbólico, eu o assassinei.
O detalhe: a morte dele ocorreu no dia do meu aniversário.
Desde então carrego na consciência este ato hediondo. Não tive sangue nas mãos, foi tudo muito limpo, até mesmo asséptico. Voltei a ler o cara depois disso, mas aparentemente não tenho o dom da ressurreição.
Já pensei em fazer um ritual de magia do caos para evocá-lo, nem que seja pra pedir desculpas. Mas tenho medo, pois sei que, do outro lado do Abismo, ele vai me falar “E aí, foi real o bastante para você?”.
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