Archive for junho, 2010
Mergulho no Abismo
O Deus fascista distribui senhas para o gozo carnal, gozo consumerista, gozo na cara da sociedade que sempre disse o que você pode desejar, o que pode fazer, o que pode querer, o que pode foder, e você, seu otário, você acreditou, acreditou nos seus pais, acreditou nas leis, acreditou na ciência, acreditou no Papa, e agora esta aí, fodido e mal pago, mais mal pago do que fodido, pois até que você queria dar umazinha, dar duas, dar três, dar vinte, mas não é nenhum gênio, pois engole o sapo que te enfiam pela goela, e quando seu colega ao lado diz que é assim mesmo, manda quem pode obedece quem tem juízo, você obedece com seu sorriso mecânico, a laranja mecânica tem um gosto amargo mas você chupa ainda assim, você, seu malandrão, que se acha rebelde e esperto, mas sempre segue as regras no final: COMPRE COMPRE COMPRE COMPRE, dívida no banco, dívida no cartão, cheque especial, você se mata de trabalhar para ter o que não precisa, perde seu sono, perde seus dias, perde seus meses, perde seus anos, se enche de pílulas para conseguir ser feliz, tem mau-humor, tem depressão, chora escondido no banheiro, mas dizendo que está tudo bem, e eu te pergunto ATÉ QUANDO?, e é nesse hora que você vai olhar para o Abismo, e ele vai te olhar de volta, e você perceberá que a hora é agora,não deixe para amanhã o que pode destruir hoje, destruir como Shiva, para dos restos recomeçar, reconstruir, pare de pedir autorização para viver e VIVA!
Imagem: Portrait prémonitoire de Guillaume Apollinaire – 1914, de Giorgio de Chirico
Mas que eca de piada!
Alguém notou que a capa da revista Veja dessa semana “roubou” a piada da revista MAD#17, publicada no fim do ano passado?
Compare aí:
MAD #17
A Veja do “CALA BOCA GALVÃO”:
Eu lembro que, quando lia a Mad, uma piada corrente era a de que a revista era tão ruim que não servia nem como papel higiênico. E a Veja, está servindo ao menos pra isso?
Adeus a Saramago
Quinta-feira à noite, dia 17 de junho de 2010. Havia terminado minhas tarefas do dia, e estava pensando no que ler antes de dormir – é um costume antigo meu, não pego no sono sem ter lido ao menos uma página que seja. Estava cansado, e indeciso quanto à leitura. Decidi então pegar o livro A Bagagem do Viajante, a coletânea de crônicas de José Saramago. Abri-o numa página qualquer, indo aonde aleatoriamente o destino determinasse (Cronicamente Natalina foi a que li, uma visão agridoce do feriado cristão).
No dia seguinte pela manhã, acordo, ligo a tv para acompanhar a Copa do Mundo e, de repente, o narrador da ESPN Brasil comunica a nota triste do dia: morre o escritor português José Saramago.
Por alguns segundos o meu mundo caiu: meu escritor favorito havia morrido, como assim? Demorou um pouco até que eu me acostumasse com a idéia. Mas o dia seguiu, triste. O pior é que o dia foi realmente ruim, vi pequenas injustiças e o desrespeito dos seres humanos com seus semelhantes acontecer – impossível não lembrar do recém-falecido ganhador do Nobel de Literatura e sua eterna indignação com os poderosos.
O engraçado é que sempre me perguntei o que faria quando Saramago morresse, quantas saudades eu sentiria de seu texto belo e contudente, da sua defesa sem concessões do que acreditava, da sua oposição aos fanatismos e à visão financeira do humano em detrimento da humanista. Só com a sua partida é que percebi o óbvio: o homem foi, mas a obra ficou. Agora, sempre que sentir saudade de meu escritor favorito, já sei o que fazer: abrirei um livro dele, aleatoriamente, e lerei uma página qualquer.
Saramago, serenamente, encarou o Abismo, e este respondeu “Parabéns, missão cumprida!”
Abaixo, um vídeo de Saramago em homenagem às mães da Praça de Maio (se não me engano, um trecho do livro O Ano de 1993)
P.S : estava pleanejando a volta do blog para depois da Copa, mas a vida (ou, no caso, a morte) mais uma vez muda os planos.