Posts filed under ‘Uncategorized’
A Space Blooks vem aí!
O evento no ano passado foi muito bom, e o desse ano promete ser ainda melhor! Estarei lá!
space blooks 2011
A ficção científica em órbita no Rio
Escritor e roteirista britânico Rob Shearman (Doctor Who)
é um dos destaques dos bate-papos que reúnem fãs do sci-fi,
de 30/05 a 1/06 na Blooks Livraria
Evento único no Rio de Janeiro que discute ficção científica e suas conexões com a TV, o cinema e outras mídias, o Space Blooks invade, de novo, um dos lugares mais plurais da cidade: a Blooks Livraria.
Com curadoria de Octavio Aragão, doutor em Artes Visuais (UFRJ) e professor da Escola de Comunicação da UFRJ, a segunda edição do encontro traz a cidade, de novo, para o centro do universo de alienígenas, mundos paralelos e fenômenos inexplicáveis que conquista uma crescente legião de fãs.
Este ano, o Space Blooks ganhou mais uma noite e um convidado internacional: Rob Shearman, escritor britânico vencedor do World Fantasy Awards, finalista do prestigiado prêmio Hugo, e um dos roteiristas da série cult britânica Doctor Who.
“A maior parte dos seriados tem seu pé bem plantado em conceitos de Sci-Fi, vide os fenômenos Lost, Heroes, Fringe e The 4400. Mais do que o cinema, a TV é hoje o principal veículo pelo qual a ficção científica chega ao consumidor, formatando gostos e visões de futuro. Ter um roteirista do gênero e escritor premiado falando sobre seu processo de trabalho na TV inglesa será um presente para todos nós”, comemora Octavio Aragão.
A programação, claro, tem prata da casa: Lúcio Manfredi, de Dom Casmurro e Os Discos Voadores (Leya), e Pedro Vieira, de Memórias Desmortas de Brás Cubas (Tara Editorial) – autores de mashups que ousaram lançar mão de obras do “bruxo do Cosme Velho” em romances polêmicos, que mexeram com o panorama literário no final do ano passado.
Além deles, Gérson Lodi-Ribeiro faz a noite de autógrafos do seu A Guardiã da Memória (Draco), no terceiro e último dia do evento. A Draco aproveita e lança, também, Space Opera, antologia com textos de diversos autores brasileiros sobre naves espaciais, alienígenas e armas futuristas.
PROGRAMAÇÃO/SERVIÇO
30/05: “Mashup de Assis” – Lúcio Manfredi, autor de Dom Casmurro e Os Discos Voadores (Leya), e Pedro Vieira, de Memórias Desmortas de Brás Cubas (Tara Editorial).
31/05: “Ficção Científica na TV” – Robert Shearman, escritor britânico vencedor do World Fantasy Awards, finalista do prestigiado prêmio Hugo e um dos roteiristas da série cult britânica Doctor Who.
01/06: Lançamentos – A Guardiã da Memória, romance de Gérson Lodi-Ribeiro, e Space Opera, antologia de autores brasileiros: ambos da Editora Draco.
space blooks 2011
Data: 30 e 31/05 e 01/06, às 19h.
Local: Blooks Livraria – Praia de Botafogo 316, Botafogo (Unibanco Arteplex) – (21) 2559-8776 / Grátis.
blooks.com.br – diariamente, durante todo o mês de maio, posts especiais sobre Sci-Fi. Às sextas-feiras, filmes.
facebook.com/blookslivraria & twitter.com/Blooks – para curtir e acompanhar.
Realização: Blooks Livraria
Curadoria: Octavio Aragão
Assessoria de Imprensa: Jaciara Rodrigues – (21) 8121-2474 :: rjaciara@uol.com.br
Biblioteca do Abismo: Os Dias da Peste, de Fábio Fernandes
O capitalismo inventou a obsolescência programada, mas ninguém imaginou que um dia o Homem, ou o wetware, ficaria obsoleto também. A Ficção Científica, cujo papel é moldar o futuro, e não prevê-lo, foi a primeira a pensar nisso. Talvez pra já ir preparando o terreno pro dia em que a máquina nos tornará tão relevantes quanto o neandertal.
Mas como será a transição pro dia em que formos para o beleléu? Uma boa tentativa de resposta está em OS DIAS DA PESTE, romance do escritor Fábio Fernandes (que também é professor, tradutor, jornalista, dramaturgo e blogueiro de longa data), publicado pelaTarja Editorial .
O livro nos apresenta Artur Matos, professor e técnico de computadores, tendo que lidar com uma estranha infecção das máquinas, que no início suspeita-se que seja um vírus, mas logo percebe-se que há mais do que um simples tilt nos computadores. Artur vai então formulando hipóteses, até descobrir a verdade, e como a humanidade lida com ela, no evento que fica conhecido pelos habitantes do futuro como Convergência.
Na introdução, a esc-ape Lucida Sanz do ano de 2109 (esc nos lembrando do digital, da tecnologia, e o ape nos remetendo ao que temos de animal e primitivo) nos apresenta o diário de Artur Matos, dos anos de 2010 a 2016, seja em formato de blog ou de podcast. A própria introdução faz um jogo de idéias, afinal estamos lendo um livro de papel, que já está se tornando ultrapassado, sobre como a humanidade ficará ultrapassada – a ausência de hyperlinks e atualizações do livro em papel nos remetendo a ausência de atualização do Homem. Mas não seriam as próteses, óculos, entre outros, indícios de que o Homem pode sim receber atualizações? E, a medida em que a tecnologia evoluir, até que ponto a introdução dele em nossos corpos nos manterão ainda como homens, ou nos tornarão ciborgues ou mesmo máquinas? É esse o tipo de questionamento que perpassa todo o livro.
A dificuldade do protagonista em nomear sua máquina (não vou entrar em detalhes pra não exagerar nos spoilers) traduz essa angústia em reconhecer na máquina o Outro. Nomear significa individualizar, significa demonstrar afeto ou algum tipo de emoção, em encarar a máquina como igual, ou menos como sujeito de direitos.
Outro aspecto a se destacar é que a Ficção Científica normalmente possui a divisão em distópica ou utópica, mas o livro é ambos e nenhum ao mesmo tempo. Para o habitante de 2109, o presente é claramente muito melhor e superior ao passado descrito nos diários, mas do ponto de vista de quem viveu de 2010 a 2016, será que esse futuro é tão melhor assim? Essa dualidade de pontos de vista nos mostra o quanto se ganhou e o quanto também se perdeu com o advento da Convergência.
E tudo isso, meus amigos, na prosa clara e divertida do Fábio, com bastante citações pops e acadêmicas, num texto ágil e gostoso de ler. E o protagonista não imaginou o quanto estava certo quando disse, a certa altura do livro, que “ninguém detém a marcha do progresso – mesmo que essa marcha leve direto para o abismo”.
P.S. Você pode ler um trecho do livroaqui
Mergulho no Abismo
O Deus fascista distribui senhas para o gozo carnal, gozo consumerista, gozo na cara da sociedade que sempre disse o que você pode desejar, o que pode fazer, o que pode querer, o que pode foder, e você, seu otário, você acreditou, acreditou nos seus pais, acreditou nas leis, acreditou na ciência, acreditou no Papa, e agora esta aí, fodido e mal pago, mais mal pago do que fodido, pois até que você queria dar umazinha, dar duas, dar três, dar vinte, mas não é nenhum gênio, pois engole o sapo que te enfiam pela goela, e quando seu colega ao lado diz que é assim mesmo, manda quem pode obedece quem tem juízo, você obedece com seu sorriso mecânico, a laranja mecânica tem um gosto amargo mas você chupa ainda assim, você, seu malandrão, que se acha rebelde e esperto, mas sempre segue as regras no final: COMPRE COMPRE COMPRE COMPRE, dívida no banco, dívida no cartão, cheque especial, você se mata de trabalhar para ter o que não precisa, perde seu sono, perde seus dias, perde seus meses, perde seus anos, se enche de pílulas para conseguir ser feliz, tem mau-humor, tem depressão, chora escondido no banheiro, mas dizendo que está tudo bem, e eu te pergunto ATÉ QUANDO?, e é nesse hora que você vai olhar para o Abismo, e ele vai te olhar de volta, e você perceberá que a hora é agora,não deixe para amanhã o que pode destruir hoje, destruir como Shiva, para dos restos recomeçar, reconstruir, pare de pedir autorização para viver e VIVA!
Imagem: Portrait prémonitoire de Guillaume Apollinaire – 1914, de Giorgio de Chirico
Mas que eca de piada!
Alguém notou que a capa da revista Veja dessa semana “roubou” a piada da revista MAD#17, publicada no fim do ano passado?
Compare aí:
MAD #17
A Veja do “CALA BOCA GALVÃO”:
Eu lembro que, quando lia a Mad, uma piada corrente era a de que a revista era tão ruim que não servia nem como papel higiênico. E a Veja, está servindo ao menos pra isso?
Adeus a Saramago
Quinta-feira à noite, dia 17 de junho de 2010. Havia terminado minhas tarefas do dia, e estava pensando no que ler antes de dormir – é um costume antigo meu, não pego no sono sem ter lido ao menos uma página que seja. Estava cansado, e indeciso quanto à leitura. Decidi então pegar o livro A Bagagem do Viajante, a coletânea de crônicas de José Saramago. Abri-o numa página qualquer, indo aonde aleatoriamente o destino determinasse (Cronicamente Natalina foi a que li, uma visão agridoce do feriado cristão).
No dia seguinte pela manhã, acordo, ligo a tv para acompanhar a Copa do Mundo e, de repente, o narrador da ESPN Brasil comunica a nota triste do dia: morre o escritor português José Saramago.
Por alguns segundos o meu mundo caiu: meu escritor favorito havia morrido, como assim? Demorou um pouco até que eu me acostumasse com a idéia. Mas o dia seguiu, triste. O pior é que o dia foi realmente ruim, vi pequenas injustiças e o desrespeito dos seres humanos com seus semelhantes acontecer – impossível não lembrar do recém-falecido ganhador do Nobel de Literatura e sua eterna indignação com os poderosos.
O engraçado é que sempre me perguntei o que faria quando Saramago morresse, quantas saudades eu sentiria de seu texto belo e contudente, da sua defesa sem concessões do que acreditava, da sua oposição aos fanatismos e à visão financeira do humano em detrimento da humanista. Só com a sua partida é que percebi o óbvio: o homem foi, mas a obra ficou. Agora, sempre que sentir saudade de meu escritor favorito, já sei o que fazer: abrirei um livro dele, aleatoriamente, e lerei uma página qualquer.
Saramago, serenamente, encarou o Abismo, e este respondeu “Parabéns, missão cumprida!”
Abaixo, um vídeo de Saramago em homenagem às mães da Praça de Maio (se não me engano, um trecho do livro O Ano de 1993)
P.S : estava pleanejando a volta do blog para depois da Copa, mas a vida (ou, no caso, a morte) mais uma vez muda os planos.
Um conto para o Haiti
O blog FC e Afins, da Ana Cristina Rodrigues, inspirado numa iniciativa do Crossed Genres, criou uma iniciativa para ajudar o povo do Haiti.
Ana convocou escritores para publicarem em seus blogs um conto e, no mesmo post, o link com informações para quem quer fazer doações que irão ajudar o povo haitiano.
Este blog, apesar de andar meio parado, se junta a iniciativa, postando o conto Last Night on Earth, já previamente publicado em meu antigo blog.
Vá agora neste link e saiba como fazer as doações. Depois retorne e leia o conto.
Last Night On Earth
As bestas estão soltas. Espíritos perdidos vagam pela Terra procurando por si mesmos. Alguns optam pelo hedonismo extremado, outros enloquecem e liberam todos os demônios que guardavam dentro de si, e há ainda os que optam pela oração, arrependendo-se de seus pecados.
Messias e Madalena, como a maioria da população, foram pegos de surpresa com a notícia. Em meio às explosões, correndo pelos escombros, acabaram se encontrando e passando os últimos momentos juntos. Uma noite apenas para poder amar e ser amado.
Eles se beijaram com paixão pela vida, e um pelo outro, e por si mesmos. Alguns poucos minutos, em meio à morte e destruição. O beijo foi longo, o melhor de suas vidas, e neste beijo estavam todos os amores que não viveram, todos os momentos felizes de suas vidas que estragaram por uma bobagem qualquer, todas as brigas por motivos idiotas que cresceram e formaram inimizades, todos os amigos perdidos pelo egoismo, todos os sonhos não vividos pela preguiça ou pelo receio de mudança, toda a satisfação desperdiçada pela culpa, todo o orgulho ferido pelo que outros, com quem nunca se importaram, disseram ou deixaram de dizer.
Naqueles poucos minutos, se entregaram completamente, e foram os melhores minutos de sua vida.
Minutos que valeram por uma vida inteira.
E então veio o fim.
Baader-Meinhof Blues (mini-conto)
É bom sentir o peso da granada em suas mãos. Dá uma sensação de poder incrível, você se sente o dono do mundo. Olhe em volta, tanta gente vivendo suas vidinhas comuns e alienadas. Todos são prisioneiros, primeiro do sistema, e, além disso, de seus próprios egos. A libertação de todos eles está em suas mãos, em seus dedos que envolvem o pino. Basta puxá-lo para tocar a canção de Kali, trazer a paz do caos para todos os atingidos.
O cheiro de pólvora penetra em suas narinas, ou no que restou delas em meio ao fogo e aos destroços que refletem no ar como as estrelas mortas que iluminam o céu noite após noite. Sua vida se esvai em regozijo com os gritos de dor e desespero, com o sangue que deixa o chão úmido, com a carne humana queimada e os restos de corpos espalhados enfeitando as ruas como bolas coloridas em uma árvore de natal.
Tudo isso em nome de quê? Vingar seus irmãos? Pra combater as injustiças do mundo? Pra agradar a Deus? Seja sincero ao menos nestes segundos que antecedem sua morte. Você fez isso pelo gosto da violência, pelo prazer de causar destruição. E saiba que amanhã, e depois de amanhã, e depois de depois de amanhã, outros seguirão seu caminho. Matarão em nome de justiça, de reparação, da segurança de seus semelhantes, em nome da igualdade ou do povo.
PORNOWEBCAM
A internet nos conecta com todo o mundo, o tempo inteiro. A quantidade de informação é gigantesca, você pode conhecer gente do mundo inteiro e trocar idéias sobre tudo o que acontece em tempo real. Uma maravilha. Mas a principal utilidade até hoje parece que tem sido a de tornar a pornografia acessível para todos.
É praticamente um puteiro em sua casa. Você pode ter mulheres de qualquer tipo nuas para você a qualquer hora do dia, fazendo qualquer tipo de fantasia que você tenha ou ainda nem sabe que tem. São blogs, sites, redes p2p, tem até o youtube do pornô – na verdade, mais de um. Nenhum ser humano daria conta de assistir a todos os vídeos pornôs que estão na internet, e cada dia esse número aumenta mais.
Ok, isso tudo é mesmo uma festa pros punheteiros de plantão. Vaginas e bundas em closes que fariam inveja a Sergio Leone, mulheres recebendo sêmen em todas as partes de seu corpo, etc. Mas nem o mais viciado agüenta ficar só assistindo vídeos, e mais cedo ou mais tarde vai querer partir para a ação.
No início era tudo mais inocente. Um homem fingia que era mulher, outro garoto também, eles se encontravam num chat sem se conhecer e faziam sexo lésbico a madrugada inteira. Mas isso devia ser meio incômodo, como eles faziam pra gozar e teclar ao mesmo tempo? Foi aí que veio a grande revolução: a webcam!
Agora você pode ficar sem roupa na frente de desconhecidos e achar que realmente está fazendo sexo. A imaginação diminuiu, mas a sensação de realidade aumentou.
O problema disso tudo é que o sexo, pra maioria das pessoas ao menos, é uma coisa íntima. Mas ao passar isso pra rede, corre-se o risco de ter exposta, contra a vontade, a sua intimidade para o mundo todo. Imagine seus amigos te vendo fazer sexo. Imagine SEUS PAIS te vendo fazer sexo. Não deve ser nem um pouco agradável.
E é só correr esses sites pornôs para achar uma enorme quantidade de vídeos e fotos amadoras. Daí para um conhecido acessar o site e divulgar, e ter uma vida destruída, é só um passo. E vai ser enquanto assiste ao seu vídeo fazendo um strip que o Abismo vai te perguntar: “Que tal agora você ficar de quatro?”.
O CRIME PERFEITO
O primeiro homicídio a gente nunca esquece. Não foi premeditado, nem a sangue-frio, mas o gostinho que ele deixa, para o bem ou para o mal, é inesquecível. Depois de matar alguém, você nunca mais é o mesmo.
Hoje contarei como matei Jean Baudrillard. Sim, o filósofo/sociólogo francês não morreu doente em 06 de março de 2007. Ou melhor, morreu sim, mas não só por isso. Quem o matou fui eu, admito.
Dois ou três dias antes de sua morte, estava eu na Livraria da Travessa, na Avenida Rio Branco, escolhendo que livro levaria pra casa. Achei uma pilha de livros dele, folheei um a um, com calma, tentando me decidir qual levaria. Até que percebi que não, não estava afim de ler nada dele naquele dia.
Ao devolver a pilha de livros à prateleira, no plano simbólico disparei um tiro direto no peito do autor francês. E, assim como as Torres Gêmeas entenderam que o ataque da Al Quaeda foi o único acontecimento real de nossos tempos, e por isso resolveram se implodir, Baudrillard compreendeu que a minha recusa à sua obra significava que sua hora havia chegado, entregando-se a morte. No plano simbólico, eu o assassinei.
O detalhe: a morte dele ocorreu no dia do meu aniversário.
Desde então carrego na consciência este ato hediondo. Não tive sangue nas mãos, foi tudo muito limpo, até mesmo asséptico. Voltei a ler o cara depois disso, mas aparentemente não tenho o dom da ressurreição.
Já pensei em fazer um ritual de magia do caos para evocá-lo, nem que seja pra pedir desculpas. Mas tenho medo, pois sei que, do outro lado do Abismo, ele vai me falar “E aí, foi real o bastante para você?”.
FALA EVA E ADÃO BEM RÁPIDO
FALA EVA E ADÃO BEM RÁPIDO
Gênesis. Adão e Eva, todo mundo conhece a história. O primeiro homem, a primeira mulher, uma cobra, uma maçã. A primeira cagada. Dizem no lado aí de cima que a maçã significa o conhecimento, ou a primeira vez que Adão deu no couro. Mas do lado de cá o que se conta é diferente.
A maçã na verdade simboliza o arrependimento. Foi quando Ele viu que tinha feito merda. Ficou puto não pela desobediência em si, mas ao perceber que tinha aberto a Caixa de Pandora (que na época era dEle mesmo, o politeísmo ainda não tinha sido inventado). “Puta que o pariu!” foram as divinas palavras saídas de seus lábios onipotentes. O pior é que na época Ele ainda não tinha inventado o Estagiário, essa entidade que serve pra gente jogar a culpa sempre que algo dá errado.
Quer dizer, até dá pra entender o Velho Barbudo. Se os humanos foram criados à imagem e semelhança divina, Ele não deve ter gostado muito de ter se visto no espelho. Afinal, o primeiro filho do casal primordial matou o segundo pra agradar Deus. Se na época já existisse a pólvora, o primeiro homem-bomba já estava inventado. Mudam os métodos, permanece a intenção.
Está certo que Ele podia ter desfeito tudo num estalar de dedos, mas aí já tinha se apegado aos bichinhos. Pense no seu cachorro: ele pode cagar na casa toda, querer transar com tudo que vê na frente, pular na perna das visitas, ficar latindo pro nada de madrugada. Só que, apesar de tudo, você acha ele legal e tem sentimentos sinceros pelo animal. É a mesma coisa entre Deus e os homens. A diferença é que a humanidade desenvolveu a inteligência e bolou maneiras criativas de matar seu semelhante – espadas, revólveres, bombas atômicas. O Pai fez o que nós faríamos, expulsou os bichos da sala – o Paraíso – e mandou pro quintal – a Terra. Se um dia o cachorro aprender que o tapete persa não é toalete, pode voltar pro Paraíso.
Quem se deu mal nisso tudo foi Jesus. Ele estava quieto no canto dele, curtindo a vida eterna, daí chega o Velho e diz “Essa pica é tua, Aspira!”. Deu no que deu. O coitado do Messias até que tentou, mas até hoje, dois mil anos depois, parece que ninguém aprendeu.
Jesus sofreu pra cacete naquela cruz. Demorou pra morrer também, pro seu azar. Pouco antes de partir dessa pra melhor (no caso dele, com certeza pra *muito* melhor), Ele encarou fixamente o Abismo, que, como sabemos, sempre olha de volta. Foi quando falou “Senhor Zero-Um, missão cumprida!”, no que ouviu em resposta “Essa você põe na conta do Papa”.